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quarta-feira, 26 de julho de 2023

Em Salvador, CPP realiza atividades sobre “saúde ocupacional” com mulheres quilombolas, marisqueiras e pescadoras artesanais.

A ação faz parte da programação da “Escola de Formação em Saúde Tradicional, Integral e Autocuidado com mulheres pescadoras e quilombolas”, promovida pelo Conselho Pastoral dos Pescadores, regional Bahia e Sergipe, com apoio do Fundo Elas.


Foto: Ascom/CPP-BA/SE.

De 25 a 27 de julho, mulheres, jovens e adultas, oriundas de comunidades quilombolas e de pesca artesanal, situadas nos estados da Bahia e Sergipe, participam de atividades sobre saúde ocupacional, com práticas de fisioterapia e exercícios terapêuticos. As participantes estão tendo a oportunidade de serem orientadas por profissionais da área da saúde e que estão vinculadas ao  Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho da Universidade Federal da Bahia (PPGSAT/ UFBA). A ação faz parte da programação da “Escola de Formação em Saúde Tradicional, Integral e Autocuidado com mulheres pescadoras e quilombolas”, promovida pelo Conselho Pastoral dos Pescadores, regional Bahia e Sergipe, em parceria com o PPGSAT/UFBA e apoio do Fundo Elas.

No dia 25, Dia de Tereza de Benguela e Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha”, como inspiração para a prática de ações em favor da saúde e do autocuidado, a programação do primeiro dia de atividade destacou o tema “Conceitos de saúde ocupacional: riscos e questões sobre a saúde”. 


Foto: Ascom/CPP-BA/SE.

Hoje, 26, Dia Internacional para a Conservação do Ecossistema de Manguezais e Dia de Nanã, que de acordo com a mitologia afro-brasileira, essa orixá simboliza a vitalidade presente no berçário do ecossistema marinho, exercícios de fisioterapia e prática de ginástica terapêutica chinesa, denominada “Lian Gong”, marcam o segundo dia de programação para marisqueiras e pescadoras artesanais. As atividades estão sendo ministradas pelas fisioterapeutas e membros do PPGSAT, Luiza Monteiro Barros, Thais Gomes e Verônica Sena.

Fotos: Agentes/CPP-BA/SE.

Foto: Ascom/CPP-BA/SE.

O terceiro e último dia, 27, de atividades do segundo módulo será marcado por uma roda de conversa entre as participantes e as agentes do CPP/BA-SE. Nesse momento, as marisqueiras  e pescadoras irão compartilhar vivências acerca dos exercícios “Automassagem, Consciência Somática e Aromaterapia Integrativa”, aprendidos durante a programação do primeiro módulo, realizado entre os dias 09 e 11 de maio deste ano. 

Foto: Ascom/CPP-BA/SE.

"O trabalho dignifica, mas pode causar doenças graves, a exemplo das lesões por esforço repetitivo”,  disse o médico, pesquisador e pesquisador, Dr. Paulo Pena, do PPGSAT/UFBA, durante a conversa sobre “Conceitos de saúde ocupacional: riscos e questões sobre a saúde”. Ele pontuou que quase todas as profissões podem causar doenças ocupacionais ou do trabalho. A LER, por exemplo, não se restringe apenas ao trabalho de mariscagem e pesca artesanal Essa doença ocupacional é provocada por esforços repetitivos que prejudicam as articulações do corpo, como mãos, punhos, braços, ombros, lombar, joelhos e tornozelos. 

Foto: Ascom/CPP-BA/SE.

Foto: Ascom/CPP-BA/SE.


Foto: Ascom/CPP-BA/SE.

Doenças do trabalho da mariscagem e da pesca artesanal

As doenças do trabalho, ou ocupacional, “resultam das condições de trabalho ou da forma em que o trabalho é realizado”, conforme a cartilha intitulada “A saúde das pescadoras  artesanais”, publicada pelo Ministério da Saúde. 

Essa publicação apresenta uma série de atividades e riscos relacionados ao trabalho de mariscagem e pesca artesanal. Entre as atividades realizadas diariamente, destacam-se remar com canoas ou barcos, carregar baldes pesados contendo mariscos ou peixes, levantamento e movimentação de peso excessivo, etc. Esses e outros afazeres são específicos do trabalho que envolve toda a cadeia produtiva de mariscagem e pesca artesanal. Mas, sem o devido cuidado, a trabalhadora (ou trabalhador) poderá sofrer lesões por esforços repetitivos, ou seja, LER, uma doença ocupacional.

Além da LER, outras doenças ocupacionais têm sido enfrentadas por trabalhadoras e trabalhadores de mariscagem e pesca artesanal, como câncer de pele, doenças de pele, varizes, riscos biológicos, doenças respiratórias, envenenamento por chumbo, doenças descompressivas e riscos químicos.

Diante do mito que circula entre as marisqueiras, em que acreditava-se que a lama do mangue pode gerar doenças no colo do útero, o médico Paulo Pena explica que a lama do manguezal não representa perigo para a saúde das marisqueiras e não adentra o órgão reprodutor da mulher. Mas, há risco quando a área do mangue estiver poluída com resíduos sanitários e químicos, podendo causar infecções urinárias, alergias, fungos, bactérias, verminoses, tuberculose, leptospirose, tétano, hepatite A e dengue. As doenças provocadas por resíduos químicos, como câncer de pele, infecções respiratórias e dermatites, afetam a saúde das marisqueiras, e são decorrentes da contaminação provocada por resíduos gerados nas indústrias de papel, combustível, etc., que contaminam áreas de manguezais.  

Práticas preventivas das doenças do trabalho na cadeia produtiva da mariscagem e da pesca artesanal

As áreas de manguezais, rios e baías constituem o ambiente do trabalho da mariscagem e da pesca artesanal, mas representam espaços de lazer para outras classes trabalhadoras, por ser extremamente rico, paisagisticamente belo e saudável. O ecossistema costeiro, principalmente, a água salgada, que é repleta de minerais e nutrientes, favorece a saúde física e mental. Como recomendado pelo médico Paulo Pena, a "talassoterapia", uma medicina antiga que faz uso da água do mar, algas, areia, lama do mangue, para tratamento de doenças psíquicas, reumatismo, osteoporose, artrite, etc., pode ser acessada no ambiente do trabalho da mariscagem e da pesca artesanal.

As trabalhadoras (e trabalhadores) da mariscagem e da pesca artesanal podem evitar e/ou reduzir as doenças ocupacionais ao fazer uso de protetor solar, repelente, chapéu com abas arredondadas e largas ou boné do legionário, que proteja o pescoço,  roupas que protejam os braços e pernas, evitar uso de absorventes internos quando estiver menstruada e for realizar coleta de mariscos, e, sempre que puder, trabalhar em áreas sombreadas, para evitar câncer de pele, que também é uma doença ocupacional. 

O uso de óleo diesel ou querosene como repelente é uma prática usada, porém causa câncer. Em áreas de manguezais, para afastar os mosquitos, marisqueiras e pescadoras artesanais têm usado azeite de dendê com citronela como repelente. Essa mistura é saudável por ser rico em antioxidantes, prevenir o envelhecimento, e por ser uma fonte de ômega 6 e 9, rica em vitamina A e E.

Benefícios sociais por conta de doenças ocupacionais

Para ter acesso a algum tipo de benefício social, assegurado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), é importante que a trabalhadora (ou trabalhador) da mariscagem e pesca artesanal que for acometida por uma doença ocupacional precisa ter Registro Geral de Pesca (RGP), ativo há pelo menos um ano, conhecido como carteira ativa do(a) pescador, do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), como pescador profissional artesanal. 

Além do RGP, após realização de exames para diagnosticar a doença ocupacional, a pescadora, marisqueira ou pescador artesanal deverá emitir a "Comunicação do acidente de trabalho" (CAT), no site do INSS, para ter acesso ao benefício social. 

Para doenças que prevê um tempo de tratamento curto, a trabalhadora (ou trabalhador) pode receber o auxílio-doença, benefício previdenciário B31, que equivale 60% do salário mínimo, para quem terá afastamento temporário das atividades do trabalho. O benefício previdenciário B91, conhecido como seguro acidentário, equivale um salário mínimo, pode ser acessado por quem sofreu algum tipo de acidente de trabalho.