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segunda-feira, 5 de junho de 2023

Dia Mundial do Meio Ambiente: famílias da comunidade quilombola de Boca do Rio correm risco de expulsão por ordem judicial

Para o funcionamento das empresas e do Porto de Aratu, o meio ambiente foi degradado e terras foram subtraídas do território tradicional da comunidade quilombola de Boca do Rio. 

O ato em defesa da comunidade quilombola de Boca do Rio foi encerrado na Prainha, com uma ciranda, gripo por justiça e saudação à memória do pescador Caboclo. Ao fundo, observa-se reservatórios industriais, contrastando com o verde da mata e as águas da Baía de Aratu. Fotos: Ascom/CPP-BA/SE.

Na manhã desta segunda-feira, 05, Dia Mundial do Meio Ambiente, Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP), a Associação Nacional de Quilombos (ANQ), Conselho Pastoral dos Pescadores, regional Bahia e Sergipe (CPP-BA/SE), realizam ato em defesa da comunidade quilombola de Boca do Rio, situada no entorno da Baía de Aratu, no município de Candeias - BA. Além da Ouvidoria da Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE-BA), o Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social, Instituto Odara, Coletiva Mahin e o Grupo Ambientalista da Bahia (Gamba) participaram do ato em solidariedade às famílias do quilombo. 

A comunidade quilombola de Boca do Rio fica situada na Baía de Aratu, no município de Candeias - BA, e responde a uma ação de despejo desde 2019, proposta pela Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba). Há quatro anos, essa ação judicial tramita no Ministério Público Federal (MPF). Mas o território pesqueiro reflete um cenário de destruição, desrespeito às vidas humanas e ao meio ambiente. 

Em duas décadas, desde a instalação da Braskem, cerca de 200 famílias tiveram que deixar o lar, o modo de ser e viver em um território tradicional pesqueiro e quilombola. Essas famílias não resistiram às movimentações do racismo ambiental e instituição, retirando direitos socioambientais de famílias quilombolas, negras e afro indígenas, por meio de autorizações de furto de terras do território tradicional, permissão de aterramento de manguezais, pulverização e derramamento de produtos químicos nas águas, matas e ar. 


“Aqui não tinha nada do que, hoje, vocês estão vendo aí, essa porcaria”, disse dona Aurora do Carmo, 83 anos, quilombola, marisqueira aposentada, nascida e criada na comunidade de Boca do Rio. A voz dessa matriarca comprova que as famílias vivem há mais de um século no entorno da Baía de Aratu. 

A marisqueira Elaine Celestino contou que nasceu e vive na comunidade há 45 anos. “Meu pai está com 71 anos e a minha mãe tem 70, nascidos e criados nesta comunidade. O meu pai é pescador nativo, ele sempre viveu da peça, das frutas, do marisco e das aves. Tempos atrás, aqui, no nosso território, o manguezal nos dava marisco e a gente levava os nossos filhos para mariscar, ensinando-os a pescar. E, hoje, ficou mais assim, com mais dificuldade, porque eles aterraram o mangue”, disse Elaine.



Antes do ato iniciar, policiais militares em três viaturas estiveram na comunidade quilombola de Boca do Rio, alegando que houve uma denúncia de que havia um conflito na localidade. 
 
Vista da Prainha e dos reservatórios industriais, dentro do território da comunidade quilombola de Boca do Rio, situada na Baía de Aratu, no município de Candeias-BA.

Áreas sitiadas pela empresa Braskem.


A imprensa local esteve presente para registrar o ato em defesa da comunidade quilombola de Boca do Rio.