segunda-feira, 29 de maio de 2023

CPP realiza oficinas de cidadania, arte, cultura e comunicação para crianças, adolescentes e jovens de comunidades pesqueiras e quilombolas

Identidade visual do projeto “Crianças, Adolescentes e Jovens - Arte, Cultura e Comunicação: fortalecendo o território”, realizado pelo CPP-BA/SE.

Participantes do projeto “Crianças, Adolescentes e Jovens - Arte, Cultura e Comunicação: fortalecendo o território”, realizado pelo Conselho Pastoral dos Pescadores, regional Bahia e Sergipe (CPP-BA/SE), projetam sonhos com ludicidade e reflexões durante as oficinas de cidadania, autoestima, percussão, capoeira, xaxado, hip-hop, teatro, música, poesia, dança afro e contemporânea. Iniciadas no mês de março deste ano, essas atividades acontecem aos sábados, simultaneamente, em 13 comunidades pesqueiras e quilombolas, localizadas em municípios dos estados da Bahia e Sergipe.

Durante as atividades de cidadania, as(os) adolescentes e jovens participantes são encorajadas(os) a refletirem sobre temas relacionados ao funcionamento da sociedade, meio ambiente, territórios tradicionais, situações de conflitos socioambientais, relações étnico-raciais e racismo, relações de gênero, violência doméstica, ação política, projeto de vida, política eleitoral, participação da juventude, entre outras questões sociais, ambientais, territoriais e constitucionais.

Participantes do projeto na comunidade de Pijurú, em Maragogipe - BA. Foto: Ascom/CPP-BA/SE.

Participantes da Oficina de Cidadania, na comunidade de Giral Grande, em Maragogipe - BA. Foto: Monitoria/CPP-BA/SE.

A quilombola Mirelle Santos, 24 anos, da comunidade de São Francisco do Paraguaçu, em Cachoeira-BA, formada em Gestão Pública pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), acredita que a atuação do CPP-BA/SE é importante porque potencializa o fortalecimento de vínculos entre jovens. “O projeto vem com esse intuito de trazer os jovens, aproximar os jovens, livrá-los da marginalidade, e eles estão ocupando suas mentes com atividade cultural”, disse.

O quilombola, pescador, padeiro e professor de percussão, Josemar Fernandes, que é filho de marisqueira e de vaqueiro, ministra aulas de percussão para crianças e adolescentes da comunidade quilombola e pesqueira de Santiago do Iguape. Ele avalia que as oficinas ampliam horizontes ao valorizar e fortalecer os diferentes modos de ser e viver em comunidades tradicionais, mesmo diante da escassez de oportunidades de educação, profissionalização e do aumento da criminalidade gerado pelo tráfico de drogas.


Em São Francisco do Paraguaçu, comunidade situado no município de Cachoeira - BA, jovens participam da Oficina de Autoestima. Foto: Ascom/CPP-BA/SE.

O quilombola da comunidade de Santiago em do Iguape, em Cachoeira - BA, professor de percussão, Josemar Fernandes, que também trabalha como pescador e padeiro. Foto: Ascom/CPP-BA/SE.

Essa iniciativa foi pensada após diálogo entre o CPP-BA/SE e as marisqueiras, pescadoras e pescadores artesanais, diante dos impactos negativos causados pela ausência de políticas públicas e de equipamentos que permitam a formação de vínculos entre crianças, adolescentes e jovens dentro das comunidades tradicionais.

Participantes de Percussão, na comunidade de Acupe, em Santo Amaro - BA. Foto: Monitoria/ CPP-BA/SE.

Oficina de Autoestima para adolescentes e jovens da comunidade de São Braz, em Santo Amaro - BA. Foto: Monitoria/CPP-BA/SE.

Crianças, adolescentes e jovens participante da Oficina de Percussão, na comunidade de Cambuta, em Santo Amaro - BA. Foto: Monitoria/ CPP-BA/SE.

As comunidades beneficiadas com as ações do projeto enfrentam situações de conflitos de violação de direitos, lentidão dos processos para regularização fundiária e titulação dos territórios, degradação ambiental, desmatamento dos manguezais, diminuição gradativa de pescados, retirada de direitos das trabalhadoras e trabalhadores de pesca artesanal e mariscagem, extinção de espécies nativas, alteração na vazão e/ou na salinidade dos rios por conta das represas, conflitos socioambientais devido ao avanço dos empreendimentos (especulação imobiliária, turismo, agricultura irrigada, monocultura, mineração, piscicultura, carcinicultura, parques eólicos, barragens, usinas, fotovoltaica e nuclear, hidrelétrica etc.).

Aula da Oficina de Dança, na comunidade de Andorinhas, localizada no município de Sento Sé - BA. Foto: Agente/CPP-BA/SE.

Lançamento das ações do projeto na comunidade de Salinas, no município de Pilão Arcado - BA. Foto: Agente/CPP-BA/SE.

Jovens da comunidade de Bonsucesso, em Poço Redondo - SE, participam de aula da Oficina de Percussão. Foto: Agente/CPP-BA/SE.

Para o CPP-BA/SE, o objetivo dessas ações é promover o “fortalecimento da identidade étnico-racial, empoderamento e engajamento das crianças, adolescentes e da juventude pesqueira nos processos de organização comunitária a partir da ação de comunicação, arte e cultura”. Além disso, o projeto “Crianças, Adolescentes e Jovens - Arte, Cultura e Comunicação: fortalecendo o território” promoverá acesso a bens culturais, intercâmbio com outras experiências de organização da juventude de povos e comunidades tradicionais, encontro da “Rede de Comunicadores Jovens de Comunidades Pesqueiras”.

Jovens atentos (e atentas) à fala da psicóloga Marta Santos, durante aula da Oficina de Autoestima, na comunidade de Aratu, em Simões Filho - BA. Foto: Ascom/CPP-BA/SE.

Aula da Oficina de Teatro para participantes da comunidade de Ilha do Tanque, localizada no município de Maraú - BA. Foto: Monitoria/ CPP-BA/SE.

Oficina de Capoeira, na comunidade de Pratigi-Matapera, em Maraú - BA. Foto: Monitoria/CPP-BA/SE.


Aula inauguração da Oficina de Percussão com participação de músicos do bloco afro "Os Negões", na comunidade de Aratu, situada no município de Simões Filho - BA. Foto: Agente/CPP-BA/SE.

As atividades do projeto têm sido realizadas pelo CPP-BA/SE em parceria com profissionais de educação, arte e cultura, especialmente pessoas oriundas das 13 comunidades participantes, mães, pais, responsáveis e lideranças pesqueiras e quilombolas do Movimento de Marisqueiras de Sergipe, Articulação Regional dos Pescadores e Pescadoras Submédio São Francisco, Articulação das Comunidades do Subaé, Conselho Quilombola de Maragogipe, Articulação das Comunidades do Iguape, Articulação dos Pescadores e Pescadoras do Baixo São Francisco e Litoral de Sergipe. Bem como conta apoio financeiro da Meistersinger Kindermissionswerk e da ActionAid.

Sobre o CPP-BA/SE:

Desde 1968, o Conselho Pastoral de Pescadores (CPP) atua pelo bem viver de marisqueiras, pescadores e pescadoras artesanais, e em defesa dos territórios tradicionais. A missão do CPP que é “movida pela força libertadora do evangelho, colaborar com os pescadores e pescadoras nos justos anseios de suas vidas, respeitando sua cultura, estimulando suas organizações, tendo em vista a libertação integral e a construção de uma nova sociedade.” Assim, o CPP busca promover valores comunitários, a cultura da solidariedade, a igualdade de raça e gênero, e a democracia efetiva e participativa, tendo como princípio fundamental o protagonismo dos pescadores e pescadoras.

Site do CPP Nacional: http://cppnacional.org.br/
Blog do CPP-BA/SE: http://cppba.blogspot.com/
Para mais informações, envie mensagem de texto via e-mail: ascom.cppbase@gmail.com




terça-feira, 23 de maio de 2023

Técnicas de aromaterapia, automassagem e dança são aprendidas por jovens e mulheres da comunidade quilombola de Acupe, em Santo Amaro-BA

Hoje, jovens e mulheres da comunidade quilombola de Acupe, em Santo Amaro - BA, vivenciaram e aprenderam técnicas de aromaterapia integrativa, automassagem e exercitaram passos de dança com a terapeuta Candai Calmon. A ação faz parte de um conjunto de atividades que vêm sendo promovidas e realizadas pelo Conselho Pastoral dos Pescadores, regional Bahia e Sergipe (CPP-BA/SE).

Foto: Acervo da comunidade de Acupe, Santo Amaro-BA.
As trabalhadoras da pesca artesanal e de mariscagem queixam-se de não conseguirem atendimento adequado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nas Unidades Básicas de Saúde em municípios localizados no Recôncavo da Bahia, sobretudo quando buscam o esse tipo de serviço público para prevenir e tratar lesões por esforços repetitivos (LER) e outros tipos de doenças do trabalho.

Para o CPP-BA/SE, a “Escola de Formação em Saúde Tradicional, Integrativa e de Autocuidado com mulheres pescadoras e quilombolas” surge para “fortalecer e valorizar os conhecimentos tradicionais em saúde presente nas comunidades pesqueiras e quilombolas; formar Mulheres pescadoras e quilombolas em saúde tradicional e integrativa, a fim de garantir espaços de autocuidado e cuidado coletivo nas comunidades; aumentar a compreensão sobre o SUS, suas políticas e formas de participação e pressão, a fim de garantir acesso às comunidades; aprofundar sobre a saúde ocupacional das pescadoras nas suas variadas dimensões”.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) define que "as medicinas tradicionais, complementares e integrativas (MTCI) constituem importante modelo de cuidado à saúde, sendo em muitos países a principal oferta de serviços à população”. Mas as MTCI que devem ser garantidas pelo SUS, conforma a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas (PNSIPCFA), instituída em 2011.

Foto: Acervo da comunidade de Acupe, Santo Amaro-BA.

Foto: Acervo da comunidade de Acupe, Santo Amaro-BA.

As participantes exercitam técnicas de aromaterapia integrativa apresentadas pela terapeuta Candai Calmon.

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Em Sergipe, participantes da “Escola de Formação em Saúde Tradicional, Integrativa e de Autocuidado com mulheres pescadoras e quilombolas” replicam técnicas e conhecimentos de aromaterapia, automassagem e dança

Foto do acervo da comunidade do Quilombo Resina, Brejo Grande-SE.

Em Sergipe, participantes promoveram e replicaram atividades da “Escola de Formação em Saúde Tradicional, Integrativa e de Autocuidado com Mulheres Pescadoras e Quilombolas” no Quilombo Resina, localizado no município de Brejo Grande-SE. Por meio de oficinas práticas, jovens e mulheres puderam aprender sobre técnicas de aromaterapia integrativa e dança como prática corporal. 

As multiplicadoras reproduziram métodos de manejo, propriedades e uso das medicinais e aromáticas e produção de incenso natural. Essa ação é uma iniciativa do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP-BA/SE), que busca fortalecer e valorizar os conhecimentos tradicionais em saúde presente nas comunidades pesqueiras e quilombolas nos estados da Bahia e de Sergipe.

No início deste mês, as multiplicadoras sergipanas, entre essas lideranças de comunidades tradicionais, marisqueiras e pescadoras artesanais residentes nos municípios de Estância e Indiaroba (Litoral Sul), Poço Redondo (Baixo São Francisco) e no Quilombo Resina, em Brejo Grande-SE (Foz do São Francisco), incluindo duas agentes do CPP-BA/SE, que atuam no estado de Sergipe, participaram do curso sobre Aromaterapia Integrativa, Automassagem e Dança, realizadas entre os dias 09, 10 e 11 de maio de 2023, em Salvador - BA.

Para fundamentar a importância das ações da “Escola de Formação em Saúde Tradicional, Integrativa e de Autocuidado com Mulheres Pescadoras e Quilombolas”, recentemente, foram entregues ao CPP-BA/SE e às marisqueiras e pescadoras artesanais cinco relatórios resultantes da pesquisa intitulada “Saúde, Ambiente e Trabalho dos Pescadores Artesanais Quilombolas da Bahia de todos os Santos”A pesquisa constatou que, para o ACS, “o reconhecimento das comunidades quilombolas e os benefícios associados não são sempre distribuídos de uma forma justa porque os responsáveis por essas atribuições nem sempre conhecem bem o território”, concluiu. Ou seja, os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) os quais tratam da universalização do acesso às ações e serviços, equidade para diminuir desigualdades e integralidade das ações de promoção, prevenção e tratamento de doenças, não têm sido efetivados.

Vídeo do acervo da comunidade do Quilombo Resina, Brejo Grande-SE.


Clique aqui para saber mais acerca das ações da “Escola de Formação em Saúde Tradicional, Integral e Autocuidado com mulheres pescadoras e quilombolas”.


quinta-feira, 18 de maio de 2023

AMANHÃ SERÁ UM LINDO DIA – Primeira Conferência Livre de Saúde dos Povos das Águas acontece nesta quinta (18)

 O encontro on-line reuniu centenas de pessoas para debater questões relacionadas à saúde das comunidades pesqueiras

Fonte: Assessoria de Comunicação do CPP | Texto: Henrique Cavalheiro


Aconteceu nesta quinta-feira (18/05), a primeira Conferência Livre de Saúde dos Povos das Águas, com o Lema: “Construindo o amanhã: Proteger o território pesqueiro é garantir a saúde dos povos das águas e de toda a sociedade!”. O encontro foi promovido pelo Articulação Nacional das Pescadoras - ANP, Conselho Pastoral dos Pescadores - CPP, Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ-PE, Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil - MPP e Movimento pela Saúde dos Povos/MSP-Brasil. De forma on-line, ao longo de todo o dia, a conferência foi um espaço para discutir e abordar questões relacionadas à saúde das comunidades pesqueiras.

Mais de 150 pessoas, entre mulheres e homens das águas, servidores/as e gestores/as do sistema de saúde, pesquisadores/as e demais parceiros/as na defesa de políticas públicas de saúde para os povos das águas, estiveram reunidos para contribuir no debate sobre a saúde e o bem-estar das comunidades das águas.

Na pauta foi discutida a realidade de saúde das comunidades pesqueiras no Brasil, o fortalecimento da articulação dos movimentos em defesa da pesca artesanal na pauta da saúde, a ampliação da participação dos pescadores e pescadoras artesanais no controle social da saúde pública e a contribuição para a implementação da Política Nacional de Saúde Integral dos Povos do Campo, Floresta e das Águas.

A Conferência iniciou com um momento de acolhida e mística embalada pela canção de Guilherme Arantes, na voz de Caetano Veloso, “Amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria”, com imagens de pescadores e a relação com atendimentos de saúde. A inquietação proposta foi de como está o acesso à saúde ao povo das águas pelo território nacional? Os presentes puderam explanar suas percepções e levantaram a esperança de dias melhores, já que a realidade é de distanciamento desta camada social do atendimento, dos conselhos de saúde e de tratamentos eficazes para as doenças.  

Mesa de abertura contra a invisibilidade dos povos das águas nas políticas de saúde pública

Os trabalhos seguiram com a composição da mesa de abertura que apresentou uma análise de conjuntura da saúde das comunidades tradicionais pesqueiras no Brasil. Participaram da mesa, representantes dos movimentos, pastorais e grupos sociais: Rita de Cássia – ANP, Martilene Rodrigues – MPP, Maria José Pacheco – CPP, Mariana Olívia – FIOCRUZ. Além do Doutor Paulo Pena, da Universidade Federal da Bahia – UFBA, o secretário da pesca artesanal do Ministério da Pesca e Aquicultura, Cristiano Ramalho, e da representante do Ministério da Saúde, Lilian Silva Gonçalves.

Para Martilene Rodrigues, do MPP, é importante relembrar que o acesso à saúde é um direito já conquistado, mas que não alcança de forma plena as necessidades específicas dos pescadores e pescadoras artesanais. “Nós das comunidades tradicionais pesqueiras, não somos reconhecidos na área da saúde pelo que somos. A gente precisa de um atendimento específico, levando em consideração nossa atividade de produtor de alimento saudável, um atendimento de saúde direcionado para as nossas necessidades do povo tradicional”, disse Martilene.

Já Rita de Cássia, da ANP, relembrou o crime do derramamento de petróleo em 2019, que até hoje não teve nenhum tipo de reparação ou atendimento de saúde para as pessoas impactadas. “Quando teve o crime do Petróleo em 2019, a gente nem sabia que estava inserida nestas águas contaminadas. Depois veio a pandemia da Covid-19 e nos isolou, não tivemos nenhum cuidado ou acompanhamento do SUS. Precisamos ter mais acesso à Saúde. Nós mulheres pescadoras, especialmente, temos dificuldade para acessar nossas consultas de acompanhamento ginecológico”, alertou Rita.  

Segundo a representante do CPP, Maria José Pacheco, é preciso compreender o conceito de saúde na Constituição Federal e no SUS. “É muito importante que a gente discuta que além de atendimentos de saúde é preciso qualidade de vida. É preciso que os órgãos de saúde integrem os conselhos de meio ambiente e conheçam as especificidades dos pescadores e pescadoras artesanais. Necessário garantir o direito da saúde das comunidades tradicionais e não só os interesses das empresas de grandes projetos que ameaçam a nossa sobrevivência”, ponderou Zezé.

Para Mariana Olívia, da FIOCRUZ, os diagnósticos apresentados e os acúmulos de saberes e relatos das comunidades tradicionais, já são conhecidos, agora é preciso que o SUS reconheça e acolha estas falhas e contemple com políticas públicas que aumentem o acesso à saúde dos povos das águas. “Na pauta precisa ser incluída nas políticas já existentes no Ministério as especificidades dos trabalhadores/as das águas na área da saúde”, disse Olívia.

“É importante que os povos das águas revisem os conceitos e digam o que é saúde para os pescadores/as artesanais. Assim como o Estado precisa qualificar os profissionais de saúde, desde a atenção primária até de alta complexidade, para que compreendam as especificidades no atendimento dos povos das águas”, concluiu Mariana.

A saúde da pescadora e pescador artesanal é um direito humano

“A categoria dos pescadores artesanais é imensa no Brasil e vem sendo marginalizada. Uma categoria que protege o meio ambiente com seus conhecimentos e saberes tradicionais e enaltece a saúde com seu modo de viver”, afirmou Dr. Paulo Pena, e completou, “No derramamento de petróleo em 2019, os pescadores tiveram que ocupar o debate para que se decretasse situação de emergência, e isso não foi feito. E até hoje nada foi feito em atitudes concretas no acompanhamento do SUS para estas mulheres e homens que foram impactados”, destacou o professor da UFBA.  

O professor Paulo lembrou que é preciso deixar claro que o trabalho pesqueiro artesanal tem suas doenças e patologias próprias de sua prática laboral e que requerem políticas e atenção do Estado. “Nós temos que lembrar dos acidentes de trabalho dos profissionais das águas. Quando esta trabalhadora precisa se afastar para tratar suas doenças, ela fica sem ter como sobreviver financeiramente”, disse e finalizou, “A saúde dos pescadores e pescadoras está sendo negligenciada pelo SUS e está ausência de atenção não pode continuar. Ações específicas para a saúde dos povos das águas com recursos imediatos são urgentes”.

O secretário da pesca artesanal do Ministério da Pesca e Aquicultura, Cristiano Ramalho, ressaltou o “apartheid na saúde do Brasil”, onde é definido quem vai ser atendido, quem vai ser tratado, quem vai morrer ou não. “Nunca houve no Brasil uma política de Estado específica para a saúde dos povos das águas”, ponderou e continuou, “há uma questão de racismo ambiental, onde os mais atingidos pela falta de acesso à saúde nestas comunidades tradicionais são pessoas pretas”, alertou o secretário.  

“A política dos últimos anos procurou transformar os pescadores artesanais em ninguém, sem direitos, território, saúde e condições de trabalho. Gestos concretos precisam ser feitos agora e não podem esperar”, afirmou Ramalho.


“O compromisso que assumo aqui é que a pauta desta conferência será a pauta do Ministério da Pesca e da secretaria da pesca artesanal”, finalizou Cristiano.

Para a médica e representante do Ministério da Saúde, Lilian Silva Gonçalves, a política de saúde do campo, florestas e águas, pouco fala dos povos das águas e não representa a diversidade destes povos. “O desafio do Ministério da Saúde é de reconstrução dessas pautas e de tirar da invisibilidade os povos originários e comunidades tradicionais. Me fere esses relatos da dificuldade de acesso à saúde, de racismo ambiental e de como o Ministério tem acolhido essas necessidades”, afirmou Lilian.

“O desafio está dado, aberto ao diálogo, coloco como proposta desta conferência um grupo de trabalho para participar ativamente das discussões da saúde específica para os pescadores/as artesanais junto ao Ministério da Saúde”, finalizou Gonçalves.

A Conferência segue ao longo da tarde desta quinta-feira (18/5), onde serão feitos grupos de trabalho com as seguintes temáticas: Saúde e território pesqueiro; Saúde do trabalhador; Saúde mental nos territórios; Saúde das mulheres; Contaminação por agrotóxicos e poluentes de grandes empreendimentos; Atenção Primária em Saúde. O objetivo é elencar decisões e medidas que serão transformadas em relatório oficial de medidas necessárias para a saúde dos pescadores/as artesanais no Brasil. Também serão escolhidos os representantes dos pescadores para a Conferência Nacional de Saúde. 

terça-feira, 9 de maio de 2023

“Escola de Formação em Saúde Tradicional, Integral e Autocuidado com mulheres pescadoras e quilombolas” reúne participantes da Bahia e de Sergipe



A “Escola de Formação em Saúde Tradicional, Integral e Autocuidado com Mulheres Pescadoras e Quilombolas”, promovida e realizada pelo Conselho Pastoral de Pescadores, regional Bahia e Sergipe (CPP-BASE), de hoje até quinta,11, reúne mulheres que vivem em comunidades localizados nos estados da Bahia e de Sergipe. As atividades apresentam como foco conceitos e práticas de “Automassagem, Consciência Somática e Aromaterapia Integrativa”, e estão sendo realizadas na sede do ISPAC - Assessoria ao Movimento Popular, na capital baiana, e conta com apoio do Fundo ELAS.

A programação reúne momentos para apresentação dos objetivos da Escola de Formação e atividades de práticas integrativas sobre aromaterapia, automassagem e consciência somática. Durante esses três dias, as participantes serão orientadas pela terapeuta Candai Calmon, que é artista, educadora, mestre em Dança e bacharel em Estudos de Gênero e Diversidade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Além disso, as marisqueiras, pescadoras e quilombolas terão a oportunidade de participar da oficina de dança “CorpoTerritório”.



Para a terapeuta, a saúde integrativa envolve um olhar atento e cuidados direcionados à espiritualidade, às emoções e, especialmente, ao corpo físico. “Eu sou aromaterapeuta de formação e também sou bailarina formada em Dança. Tenho ajustado esses dois conhecimentos e tentado fazer dele algo que seja prático e produtivo para as mulheres nos territórios, que não são das grandes cidades . Mas, estão nos territórios quilombolas e pesqueiros que esse trabalho com as mulheres tem sido muito importante, no sentido de fortalecer esse autocuidado e essa percepção de si, que muitas vezes é tirado de nós, principalmente, mulheres negras baianas e nordestinas”, pontuou Candai Calmon.

Como relata dona Everaldina Santos, 73 anos, da comunidade de Periperi, em Salvador, o conhecimento sobre o uso de ervas tem sido transmitido por gerações através da oralidade, para tratar doenças físicas, equilibrar as emoções e fortalecer a espiritualidade. Para essa veterana da Escola de Formação em Saúde Tradicional, Integral e Autocuidado com mulheres pescadoras e quilombolas, manter hábitos saudáveis e ancestrais a partir do cultivo e uso de ervas medicinais têm lhe garantido saúde e longevidade, pois ela afirma que não sofre com nenhum tipo de doenças.




Sobre a “Escola de Formação em Saúde Tradicional, Integral e Autocuidado com mulheres pescadoras e quilombolas”


Com essa iniciativa, o CPP-BA/SE busca ampliar e compartilhar saberes entre companheiras das comunidades tradicionais. Além de promover a valorização de conhecimentos tradicionais em saúde presentes nas comunidades pesqueiras e quilombolas, formar mulheres pescadoras e quilombolas em saúde tradicional e integrativa, aumentar a compreensão sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e aprofundar questões relacionadas à saúde ocupacional das pescadoras e marisqueiras. Além de promover experiências profundas para o despertar dos sentidos numa formação sistemática com vivências-aprendizados.

Ainda em 2023, o CPP-BA/SE aplicará outros dois módulos sobre saúde tradicional, integral e autocuidado. O segundo conteúdo abordará a fitoterapia e o terceiro módulo desenvolverá atividades práticas a respeito da saúde ocupacional das pescadoras, em parceria com profissionais e pesquisadores(as) do Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho da Universidade Federal da Bahia (PPGSAT/ UFBA).


quarta-feira, 3 de maio de 2023

Resultados de pesquisa apontam necessidade de atenção à saúde integral de marisqueiras e pescadores artesanais quilombolas


Dados alertam para aumento de casos de suicídio, altos níveis de adoecimento mental, diabetes, obesidade e alcoolismo. Essas doenças têm sido provocadas por impactos negativos socioambientais e ausências de serviços públicos dentro dos territórios tradicionais quilombolas e pesqueiros na região da Baía de Todos os Santos.

Fonte: 

Assessoria de Comunicação do CPP BA/SE



A pesquisa intitulada “Saúde, Ambiente e Trabalho dos Pescadores Artesanais Quilombolas da Bahia de todos os Santos” resultou em cinco relatórios sobre a relação subjetiva e a saúde mental, segurança alimentar e nutricional, a situação e a organização do trabalho. Na última semana do mês de abril, os resultados foram apresentados ao Conselho Pastoral dos Pescadores, regional Bahia e Sergipe (CPP-BA/SE), e às marisqueiras e pescadores artesanais que participaram do estudo. 

A entrega dos relatórios foi realizada pelo professor Dr. Paulo Pena, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que assume a coordenação conjunta da pesquisa com a professora Valérie Ganem, da Universidade Sorbonne Paris Nord (USPN). O projeto de pesquisa ainda contou com a coordenação da professora Liliane Bittencourt, com participação da professora Mércia Ferreira Barreto, e com a colaboração das pesquisadoras doutorandas, Luíza Monteiro Barros, Marta Cristiane Ferreira Santos, Rita de Cássia Lopes Gomes, Kamile Miranda Lacerda Serravalle, Luíza Monteiro Barreto e Marta Cristiane Ferreira Santos.


Segundo informações apresentadas nos relatórios, as comunidades precisam de atenção maior às doenças ocupacionais, promoção da saúde integral com  atividades terapêuticas e reconhecimento do trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) dentro das comunidades quilombolas e pesqueiras. 

Para o pesquisador e coordenador da pesquisa, Dr. Paulo Pena, os relatórios “mostram que, do ponto de vista da saúde mental, pescadores e pescadoras quilombolas têm muitos recursos de solidariedade, de conversas entre si, de alegrias, etc, que ajudam a fortalecer a saúde mental, que levam as pessoas se relacionarem, mesmo diante de tanta dificuldade, diante de tanto sofrimento. Mas, também, têm condições de trabalho, têm dificuldades que levam ao sofrimento psíquico, ao sofrimento mental e ao adoecimento”, pontuou. 




As instituições parceiras farão a entrega dos relatórios às Secretarias de Saúde dos municípios e do Estado da Bahia, e ao Ministério da Saúde, com a finalidade de que esses órgãos públicos possam desenvolver uma atenção maior e adequada às necessidades das trabalhadoras e trabalhadores de pesca artesanal e mariscagem. A recomendação é de que os relatórios sejam divulgados amplamente, inclusive promovendo a produção de outros tipos de materiais informativos, a exemplo de cartilhas, para que essas informações possam ajudar tanto na formação de profissionais de saúde e das lideranças de comunidades tradicionais, quanto na promoção do autocuidado das trabalhadoras e trabalhadores.

A pesquisa durou dois anos e envolveu comunidades tradicionais quilombolas e pesqueiras situadas na região da Baía de Todos os Santos, na Bahia. Fruto de uma realização conjunta do Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho (PPGSAT/ UFBA) e da l’Unité Transversale de Psychogénèse et Psychopathologie (UTRPP/USPN), com participação de ACS, em parceria com o CPP-BA/SE e apoio da Vigilância e Atenção à Saúde do Trabalhador (DIVAST)/Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador (CESAT) da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB). 


Estruturação do projeto de pesquisa

O projeto é coordenado conjuntamente pela professora Valérie Ganem (USPN) e o professor Paulo Pena (UFBA) e tem por base estudos interdisciplinares envolvendo diversas áreas da saúde coletiva, particularmente da saúde do trabalhador, saúde mental no trabalho/psicodinâmica do trabalho e segurança alimentar e nutricional, realizados por meio das seguintes linhas:


Componente 1: Estudos sobre a relação subjetiva e a saúde mental em pescadores artesanais quilombolas, a partir dos fundamentos teóricos, conceituais e metodológicos da psicodinâmica do trabalho.

Componente 2: Estudos antropológicos e ergonômicos sobre a situação e a organização do trabalho em comunidades de pescadores artesanais remanescentes de quilombolas e suas relações com a saúde do trabalhador.

Componente 3: Estudos sobre Segurança Alimentar e Nutricional em comunidades de pescadores e pescadoras artesanais quilombolas.