Dados alertam para aumento de casos de suicídio, altos níveis de adoecimento mental, diabetes, obesidade e alcoolismo. Essas doenças têm sido provocadas por impactos negativos socioambientais e ausências de serviços públicos dentro dos territórios tradicionais quilombolas e pesqueiros na região da Baía de Todos os Santos.
A pesquisa intitulada “Saúde, Ambiente e Trabalho dos Pescadores Artesanais Quilombolas da Bahia de todos os Santos” resultou em cinco relatórios sobre a relação subjetiva e a saúde mental, segurança alimentar e nutricional, a situação e a organização do trabalho. Na última semana do mês de abril, os resultados foram apresentados ao Conselho Pastoral dos Pescadores, regional Bahia e Sergipe (CPP-BA/SE), e às marisqueiras e pescadores artesanais que participaram do estudo.
A entrega dos relatórios foi realizada pelo professor Dr. Paulo Pena, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que assume a coordenação conjunta da pesquisa com a professora Valérie Ganem, da Universidade Sorbonne Paris Nord (USPN). O projeto de pesquisa ainda contou com a coordenação da professora Liliane Bittencourt, com participação da professora Mércia Ferreira Barreto, e com a colaboração das pesquisadoras doutorandas, Luíza Monteiro Barros, Marta Cristiane Ferreira Santos, Rita de Cássia Lopes Gomes, Kamile Miranda Lacerda Serravalle, Luíza Monteiro Barreto e Marta Cristiane Ferreira Santos.
Segundo informações apresentadas nos relatórios, as comunidades precisam de atenção maior às doenças ocupacionais, promoção da saúde integral com atividades terapêuticas e reconhecimento do trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) dentro das comunidades quilombolas e pesqueiras.
Para o pesquisador e coordenador da pesquisa, Dr. Paulo Pena, os relatórios “mostram que, do ponto de vista da saúde mental, pescadores e pescadoras quilombolas têm muitos recursos de solidariedade, de conversas entre si, de alegrias, etc, que ajudam a fortalecer a saúde mental, que levam as pessoas se relacionarem, mesmo diante de tanta dificuldade, diante de tanto sofrimento. Mas, também, têm condições de trabalho, têm dificuldades que levam ao sofrimento psíquico, ao sofrimento mental e ao adoecimento”, pontuou.
As instituições parceiras farão a entrega dos relatórios às Secretarias de Saúde dos municípios e do Estado da Bahia, e ao Ministério da Saúde, com a finalidade de que esses órgãos públicos possam desenvolver uma atenção maior e adequada às necessidades das trabalhadoras e trabalhadores de pesca artesanal e mariscagem. A recomendação é de que os relatórios sejam divulgados amplamente, inclusive promovendo a produção de outros tipos de materiais informativos, a exemplo de cartilhas, para que essas informações possam ajudar tanto na formação de profissionais de saúde e das lideranças de comunidades tradicionais, quanto na promoção do autocuidado das trabalhadoras e trabalhadores.
A pesquisa durou dois anos e envolveu comunidades tradicionais quilombolas e pesqueiras situadas na região da Baía de Todos os Santos, na Bahia. Fruto de uma realização conjunta do Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho (PPGSAT/ UFBA) e da l’Unité Transversale de Psychogénèse et Psychopathologie (UTRPP/USPN), com participação de ACS, em parceria com o CPP-BA/SE e apoio da Vigilância e Atenção à Saúde do Trabalhador (DIVAST)/Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador (CESAT) da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB).
O projeto é coordenado conjuntamente pela professora Valérie Ganem (USPN) e o professor Paulo Pena (UFBA) e tem por base estudos interdisciplinares envolvendo diversas áreas da saúde coletiva, particularmente da saúde do trabalhador, saúde mental no trabalho/psicodinâmica do trabalho e segurança alimentar e nutricional, realizados por meio das seguintes linhas:
Componente 1: Estudos sobre a relação subjetiva e a saúde mental em pescadores artesanais quilombolas, a partir dos fundamentos teóricos, conceituais e metodológicos da psicodinâmica do trabalho.
Componente 2: Estudos antropológicos e ergonômicos sobre a situação e a organização do trabalho em comunidades de pescadores artesanais remanescentes de quilombolas e suas relações com a saúde do trabalhador.
Componente 3: Estudos sobre Segurança Alimentar e Nutricional em comunidades de pescadores e pescadoras artesanais quilombolas.