Por CPP Juazeiro - Bahia
Pescadores/as
do Lago de Sobradinho, no norte da Bahia, estão preocupados com as recentes
mudanças nos territórios pesqueiros: a proliferação de algas, capins, lodo,
mexilhão dourado e a redução do pescado. Esses fenômenos vêm causando danos
ambientais, culturais e econômicos.
É
o caso de uma alga conhecida popularmente pelos pescadores como Rabo de Raposa,
que vem se propagando tanto a montante quanto a jusante da Barragem de
Sobradinho. Elas se prendem nas redes, deixando-as bastante pesadas o que exige
maior esforço físico por parte desses trabalhadores e aumenta suas jornadas de
trabalho. Segundo a pescadora de Remanso-BA, Iranir dos Santos, em algumas
áreas de pesca, pescadores/as não se arriscam a colocarem suas redes, pois o
Rabo de Raposa impede a descida delas, dificultando a captura do pescado. Essa
alga, juntamente com o lodo e um capim, que apareceu após a inundação da
barragem, estão enroscando nos motores e impedindo o acesso a algumas áreas,
levando essas pessoas a percorrem trajetos mais longos até os locais de pesca.
Aliada a esses acontecimentos, tem a redução da produção pesqueira que já
atinge milhares de famílias. Estes
problemas tem afetado drasticamente a renda das comunidades tradicionais
pesqueiras, levando a uma situação de vulnerabilidade econômica e incertezas
quanto ao futuro da atual e das novas gerações de pescadores desta região.
Mexilhão
Dourado / Foto: CPP Juazeiro
|
Outra
situação que vem chamando a atenção de pescadores/as é a proliferação do
Mexilhão Dourado (Limnoperna fortunei), originário da Ásia, ele chegou ao
Brasil a partir da região Sul, preso às embarcações. Inicialmente foi
localizado em rios e lagos do Rio Grande Sul, depois se expandiu para os rios
Paraná e Uruguai e posteriormente foi encontrado em rios do Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul. Não se tem informações oficiais sobre sua chegada ao rio São
Francisco, mas segundo a pescadora Neuraci de Jesus, há dez anos, quando
exercia a pesca artesanal na comunidade de Riacho dos Paes, município de Sento
Sé-BA, esse Mexilhão já aparecia no casco de sua embarcação. No entanto, ela
sente que nos últimos seis meses, o molusco vem se intensificado. Pescadores/as
que atuam diretamente no Lago estão preocupados pois ele se fixa nas redes,
embarcações e motores, causando transtornos e danos.
Mexilhão
preso em árvore / Foto: CPP Juazeiro
|
Assim
como a pesca artesanal, a atividade da piscicultura, que até então era
considerada segura, hoje se encontra ameaçada. Essa fragilidade se dá devido a
permanecia dos tanques redes dentro d’água por até quatro meses sem manutenção.
Esse período é necessário para o crescimento dos peixes. Com isso, os mexilhões
vão se acumulando e o danificam. Esse tipo de molusco pode provocar mudanças e
até a extinção de outras espécies, causando desequilíbrio nos diversos
ecossistemas. É uma espécie invasora, que segundo pesquisadores, não há como
acabar, mas já se tem algumas iniciativas no sentido de amenizar e evitar a
proliferação para outras áreas. Não é o caso da região do Lago de Sobradinho,
que até o momento não há nenhuma medida por parte das autoridades locais no
sentido de acabar ou amenizar esse problema.
Rio São Francisco
ameaçado pelo avanço do Hidro e Agronegócio
Pescadores
pelo São Francisco / Foto: CPP Juazeiro
|
Os
problemas envolvendo o mundo da pesca artesanal estão vindo à tona no momento
em que a vazão do Lago de Sobradinho e do rio São Francisco diminuem a cada
dia, o que leva os pescadores da região à acreditarem que esse fator tem
contribuído para o avanço das mudanças ambientais locais. Entretanto, observa-se
que essa crise hídrica é fruto da falta de gestão da águas do rio São
Francisco, pois assim como em outras regiões do país, o hidro e agronegócio
crescem desenfreadamente acabando com nascentes e afluentes que alimentam as
bacias hidrográficas. Segundo Almacks Luiz Silva, do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco, no oeste da Bahia, onde fica boa parte dos
afluentes do rio São Francisco, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2015,
foi autorizada pelo poder público a supressão de 45.880,9537ha de vegetação
nativa, enquanto que outras regiões somam 153,647ha. Essas áreas serão ocupadas
pelos monocultivos, que provavelmente serão irrigados com pivô central,
exigindo grande demanda de água. Ao longo de toda a Bacia, nota-se o avanço de
grandes empreendimentos que colocam em risco a existência do rio São Francisco
e ameaça a sustentabilidade, autonomia e vida do povo ribeirinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente aqui